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PROGRAMA DE INDIO

01/07/2011

A morte de um herói

Porto Alegre, Sexta-feira, 01 de Julho de 2011.

A vida há muito deixou de ser o fator motivador de politicas de segurança, hoje destinadas à proteção patrimonial.

O instinto matou o tenente-coronel da reserva Danilo Rozo. O instinto profissional de combater criminosos e proteger as vítimas que o condicionou durante toda a sua vida abreviada no cumprimento do dever psicológico e emocional. Rozo morreu ao abortar uma tentativa de assalto a uma mulher que, saindo de uma agência bancária, já era alvo dos marginais. A notícia deixa claro o momento da tragédia: "Uma mulher saiu do banco com R$ 400 e foi abordada logo depois por dois assaltantes. Um dos ladrões puxou a bolsa da mulher, que resistiu e levou uma coronhada na cabeça. O tenente-coronel passava próximo ao local e atirou nos dois assaltantes. Um terceiro elemento do grupo, que estava afastado dos outros dois, atirou e atingiu o policial nas costas e em uma das pernas". Ele ingressou na Brigada Militar em 1979, no policiamento de Porto Alegre. Em 1986, se formou como bombeiro e atuou nas regiões de Caxias do Sul, Porto Alegre e também Santa Cruz do Sul. Também foi comandante do 11 Batalhão na Capital. Na reserva há um ano e meio, seu último cargo na corporação foi a chefia da Escola de Bombeiros do Rio Grande do Sul. Rozo poderia ter apenas ligado para o 190 comunicando o assalto. Mais um nas ruas carentes de policiamento ostensivo e preventivo, atribuição da Brigada Militar.

Ontem foi o tenente-coronel, considerado herói entre a população de Santa Cruz do Sul, hoje a vítima pode ser qualquer um na medida em que convivemos com uma estratégia desconhecida de segurança pública. A vida há muito deixou de ser o fator motivador de políticas de segurança, hoje destinadas à proteção patrimonial. Os assaltantes parados pelo tenente-coronel estavam determinados a roubar R$ 400 retirados pela mulher alvo de sua ação. Um chefe de família, um herói, um ser humano desaparece, tem sua vida covardemente interrompida por causa de miseráveis 400 pilas. Ficaram registradas as seguintes afirmações de Rozo: "É uma satisfação poder ajudar as pessoas, eu acho que é uma missão nobre. Muito embora para eles tenha sido um fator de prejuízos materiais, o pior é se fosse uma vida, porque aí o mal seria irreparável". Mal sabia o tenente-coronel, vergonhosamente derrotado na tarde fria de inverno aqui na Capital dos gaúchos, que o prejuízo irreparável de perder o bem maior, a sua vida, já estava traçado. Estamos ficando miseravelmente cínicos, a ponto de aceitar de forma passiva a afirmação em todas as reportagens policiais que descrevem milhares de episódios de assassinatos: "o assassino fugiu da cena do crime sem levar nada". Não levou o carro, a carteira ou um celular. Nada, segundo a crônica policial. Levou apenas a vida da vítima. A vida, nosso único bem real, o mais precioso em um mundo mercantilista passa a significar apenas: "nada".

A morte estúpida do tenente-coronel, que agiu instintivamente em defesa de uma mulher indefesa, reafirma as nossas críticas à ausência de policiamento ostensivo nas ruas de nossas cidades. Os marginais estão a cada dia mais ousados e pretensiosos, sequer esperando para avançar sobre suas vítimas em lugares ermos ou escuros. Agem no meio da tarde em frente a uma agência bancária em uma das avenidas mais movimentadas da Capital. Hoje, mais uma família passa a conviver com a saudade de um pai, marido, filho, que foi arrancado de forma torpe e covarde de seus afetos não apenas pelas mãos de seu assassino, mas também, salvo melhor juízo, pela falta de uma politica de segurança pública que cumpra com as determinações da constituição em vigor. Policiamento ostensivo já! É o único apelo que podemos deixar enquanto impotentes lamentamos a morte do herói Danilo Rozo.

fonte o sul

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